por Miguel Andrade, CT1ETL (associado núm. 5 e Presidente da Mesa da Assembleia-geral)

Ao meu amigo João Costa,
Estava a praticar o nosso passatempo comum no exato momento em que nos deixaste, meu amigo.
Foi um choque ter sido confrontado com a notícia de que tinhas partido, assim… de surpresa. E que desagradável e dolorosa surpresa.
Deixas muita saudade para trás e um grande sentimento de vazio.
Tens sido um modelo para muitos de nós e assim continuarás a ser nas nossas memórias coletivas.
Mais do que te homenagearmos, porque as homenagens são efémeras, mesmo as esculpidas na pedra ou moldadas no metal, devemos seguir o teu exemplo e recordar-te, com carinho, por tudo aquilo que foste, pelo que fizeste, bem e menos bem, pelo legado que deixas ao partir, infelizmente numa viagem sem retorno que um dia todos faremos.
Ensinaste, a muitos de nós, que ser Radioamador (com “R” maiúsculo) é em primeiro lugar ser-se humano.
Para além dos conhecimentos técnicos, mais ou menos aprofundados, dos feitos que atingimos com a nossa estação, independentemente se a construímos de raiz ou se nem sequer alguma vez sintonizámos uma antena feita por nós… o que interessa é o espírito de entrega, a partilha, a cortesia, a cooperação, o civismo, o humanismo, a comunicação… e tu deixaste-nos grandes lições sobre tudo isso, com alguns feitos que qualquer radioamador desejaria alcançar à mistura e muita sabedoria.
Infelizmente, no nosso passatempo comum, o mais frequente é atingirmos os pícaros da fama, reputação e notoriedade, quando temos, a nosso favor, as condições financeiras que nos permitam concretizar mais do que o elementar e o trivial. É um jogo viciado, logo à partida.
Alguns, como tu, porém, destacam-se pelo que pode haver de melhor no ser humano, superando todas as desvantagens e desigualdades.
Não chegaste a comunicar para Marte ou para as futuras missões tripuladas à Lua, não recebeste a sonda Cassini ou quiçá a estação SAQ, não bateste o recorde nos diplomas e nas entidades conquistadas via reflexão lunar ou simplesmente em FT8, mas bateste (e de longe) todos os recordes na partilha, na dileção, na abnegação e na generosidade.
A tua súbita partida deixa, como legado, mais uma soberba oportunidade para reflexão sobre muito do que se passa na nossa vida e no nosso passatempo em particular.
Obrigado João!… muito obrigado por tudo e por quem foste João!
Resta-nos a esperança de um dia nos voltarmos a reunir novamente e de voltarmos a fazer rádio os dois, certamente de uma forma diferente desta, recordando histórias e rindo… rindo daquilo que teve piada, rindo daquilo que muito valorizámos e que afinal viemos a descobrir que não tinha valor nenhum, rindo por estarmos juntos, como sempre estivemos no nosso percurso por este passatempo, por esta efémera existência mundana, esse mesmo passatempo que nos uniu e com o qual aprendemos muita coisa juntos, incluindo a amizade.
Adeus, amigo… e até sempre!
Um abraço e…
73 de Miguel Andrade (CT1ETL)